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Brasileiros na Nova Zelândia - parte 2


Brasileiros na Nova Zelândia - parte 2

Ir morar em outro país nem sempre é uma decisão fácil, pois, muitas vezes, acabamos abrindo mão do convívio familiar, dos amigos e, até mesmo, do emprego ou trabalho na área inicialmente escolhida.

Mas a mudança para o exterior traz também muitas experiências novas e gratificantes, como, por exemplo, a possibilidade de aprender um novo idioma, a convivência diária com uma cultura diferente e a oportunidade de fazer novos amigos e, quem sabe, um novo amor.

Pensando nisso, a Brazil Lines resolveu conhecer histórias de brasileiros que resolveram largar o Brasil e tentar a vida em outros países. Uma das opções bastante procuradas pelos brasileiros é a Nova Zelândia, um país com bom índice de desenvolvimento e que proporciona experiências inesquecíveis.

O entrevistado da vez é o Ronnan do Nascimento, eletricista de redes de distribuição!

1 - Brazil Lines - Qual o seu nome completo, idade e profissão?

Ronnan - Ronnan do Nascimento, 34 anos, eletricista de redes de distribuição.

2 - BL - Por que você se mudou para a Nova Zelândia? Qual foi o seu motivo?

Ronnan - O que me fez ir atrás de uma mudança radical na vida foi o crime e a corrupção no Brasil. Fui funcionário concursado da Copel por 11 anos, um emprego bom que tive que deixar pra trás junto com a família e amigos. O estopim de tudo foi uma motocicleta de alta cilindrada, que financiei na concessionária e, duas semanas depois de assinar o contrato, a loja fechou as portas e ficou com 10 mil reais que eu tinha dado de entrada e não me entregou a moto. Entrei com uma ação contra a loja para reaver meu dinheiro. Foi quando descobri que eles eram estelionatários e só obtive sucesso após uma segunda ação contra o fabricante e muita paciência. Dois anos se passaram desde a primeira tentativa da compra, economizei para comprar essa mesma moto e quando finalmente consegui, dois meses depois fui assaltado a mão armada. Perdi a moto mais uma vez, pois o seguro de motocicletas no Brasil é impraticável. Para minha surpresa, cinco dias passados do assalto, recebi uma ligação dos assaltantes dizendo que venderiam minha moto para mim por 5 mil reais, desde que eu não envolvesse a polícia, pois de alguma maneira eles já sabiam que meu pai era policial civil. Tive que comprar a mesma moto pela terceira vez e foi então que eu decidi que o Brasil não servia mais pra mim. Comecei a enviar currículos para o Canadá, Austrália e Nova Zelândia e logo percebi que havia uma carência de Eletricistas de Distribuição na Nova Zelândia, pois era o único país que eu conseguia retorno das minhas aplicações. Consegui algumas entrevistas via Skype, nas quais suei e tremi de nervosismo em frente ao computador, pois nunca havia estudado inglês, mesmo assim meu nível de inglês era intermediário. Consegui algumas entrevistas pessoalmente, mas para isso eu precisava voar para a Nova Zelândia. Em 2015 vim até aqui e levei o maior NÃO que já tive, pois eu precisava me registrar no conselho de classe primeiro (o que eu já sabia), porém só conseguiria isso se algum empregador me ajudasse a fazê-lo, coisa que não era de interesse de nenhum deles na época. Voltei pro Brasil com o rabo entre as pernas, aguentei muita piada dos meus colegas de trabalho na Copel, virei chacota por ter gasto tanto dinheiro atrás de um emprego e não ter conseguido. Continuei aplicando às vagas por mais um ano sem falar nada pra ninguém até que finalmente consegui o emprego.

3 - BL - Como você se sentiu no começo? Quais problemas você enfrentou?

Ronnan - Chegar em um país onde você não tem nenhum conhecido é algo, no mínimo, diferente. Logo que cheguei tive a surpresa de que a empresa estava em férias coletivas, pois era dia 23/12/2016 e, ao contrário do que haviam me dito, eu não pude começar a trabalhar até dia 09/01/2017. Eu e minha esposa tínhamos dinheiro só para uma semana, pois havíamos gasto todas as economias nas passagens de avião na época mais cara do ano (período natalino). Por sorte um rapaz que conhecemos aqui (hoje em dia amigo meu) falou de uma empresa que possivelmente estivesse procurando pessoal, foi quando minha esposa foi até lá, fez uma entrevista e foi contratada. Ela começou a trabalhar no dia 27/12/2016 e foi o que nos salvou. Quando tudo parecia estar encaminhado, um grandessíssimo amigo quase irmão meu faleceu no Brasil antes mesmo de eu completar um mês na Nova Zelândia. Foi muito doloroso pra mim, saber que essa seria minha vida na Nova Zelândia dali em diante, ver as pessoas que amo deixando a vida há mais de 12.000 km de distância.

4 - BL- Como você se virava no início?

Ronnan - Sem veículo para ir ao mercado, tínhamos que caminhar 3km até o mercadinho mais próximo, ou então 9km até o mercado grande. A passagem de ônibus era muito cara há dois anos, então preferíamos caminhar. Após três meses compramos um carro com excelentes condições feitas por um casal de brasileiros (gente finíssima) que conhecemos aqui.

5 - BL - E as barreiras com a língua, você já falava inglês ou aprendeu lá? O inglês da Nova Zelândia é muito diferente do ensinado no Brasil?

Ronnan - Sem dúvida a maior barreira é o idioma. Enquanto eu estava procurando emprego muitas pessoas me falaram para vir pra NZ como estudante de inglês, o problema é que eu não tinha a condição financeira, muito menos poderia ficar 3 meses de "férias" em outro país, pagando de intercambista. Eu já tinha mais de 30 anos de idade, há muito tempo já não era adolescente, então essa opção estava fora de cogitação. Assim como grande parte dos brasileiros que conheci aqui, eu também aprendi muito do meu inglês assistindo filmes e ouvindo músicas. Após 7 meses na Nova Zelândia eu paguei por 4 semanas de curso de inglês, que fizeram pouca diferença pra mim. O inglês falado na ilha sul é mais complicado de entender do que o da ilha norte da Nova Zelândia. O inglês ensinado no Brasil é o americano e o inglês escrito na Nova Zelândia é o inglês britânico, o que torna mais complicada a comunicação. Há 4 meses fiz a prova do IELTS que mede o nível de inglês e tive o resultado que precisava para dar suporte ao meu Visto de Residência.

6 - BL - Que tipo de visto você tem? O processo para conseguir foi difícil?

Ronnan - Tenho o Work Visa como Skilled Migrant Category. É uma categoria de vistos onde algumas profissões, com média escassez, são listadas, tornando o processo um pouco mais simples quando comparado a um Work Visa de uma profissão de baixa escassez de profissionais. Meu visto foi emitido com duração de três anos e me dá a opção de aplicação do Visto de Residência. O processo para conseguir o visto não foi difícil, a parte difícil é conseguir um empregador, esse sim é o grande desafio, pois sem empregador (sponsor) não tem visto de trabalho e na Nova Zelândia, ao contrário dos EUA, é praticamente impossível viver ilegalmente.

7 - BL - Como foi a receptividade do povo neozelandês? Eles são abertos aos estrangeiros ou são mais fechados?

Ronnan - O povo neozelandês em geral é muito educado e receptivo, com exceções. Mas o que tenho percebido é que as pessoas se interessam pelo que os outros tem a dizer, gostam de saber sobre diferentes culturas, e, até hoje, não conheço nenhum neozelandês que nunca tenha ido a turismo para o exterior.

8 - BL - Como foi o processo pra você encontrar moradia (casa/apartamento) na Nova Zelândia?

Ronnan - Nesses dois anos nós já moramos em 8 casas diferentes. Compartilhar uma casa com estranhos era algo que não estávamos acostumados, e apesar de parecer interessante, pode ser uma bela dor de cabeça. O aluguel na cidade que moro, Queenstown, tem cifras absurdas, o que nos forçou a dividir a mesma casa com quatro ou cinco pessoas. E é realmente incrível o que pessoas adultas são capazes de fazer, desde não dar a descarga no vaso até andar nu pela casa. Felizmente agora estamos morando em uma kitinete, somente eu e minha esposa, então esse sufoco a gente não passa mais.

9 - BL - Como é a sua rotina? Você trabalha ou estuda?

Ronnan - Logo que cheguei comecei a estudar paralelamente ao trabalho, para preencher as "lacunas" que o meu curso técnico no Brasil não abrangia. Me refiro às normas de segurança com eletricidade dentro da Nova Zelândia. O Curso durou 7 meses e foi graças ao empenho que tive para estudar durante esse período que tive um avanço significativo no meu inglês. Era esse treinamento que eu precisava para me registrar no EWRB, o que seria o equivalente ao CREA no Brasil. Atualmente só trabalho, mas logo que conseguir meu Visto de Residência pretendo cursar Engenharia Elétrica.

10 - BL - Como são as questões relativas à segurança, saúde e educação por aí?

Ronnan - A segurança na NZ é o grande diferencial. Muito seguro, com baixo índice de crimes. Para ter uma comparação, no ano de 2016 foram 58 homicídios em um país com 5 milhões de habitantes, enquanto em Curitiba, no ano de 2015, foram 449 homicídios em uma cidade com menos de 2 milhões de habitantes. Sem dúvida a segurança se deve à educação. Nunca precisei usar a saúde pública, mas ouvi relatos de pessoas que tiveram cirurgias pagas pelo governo sem nenhum problema, inclusive passagem de avião para a cidade onde havia vaga disponível para tal procedimento. O que posso dizer é que dentista deve ser a profissão mais rentável na Nova Zelândia, pois tive que pagar $1200 NZD por um tratamento de canal e $1800 NZD por um re-tratamento de canal que havia sido (mal) feito no Brasil. Acho que por esse motivo é comum encontrar neozelandês banguela por aqui, pois a extração custa "apenas" $200 NZD.

11 - BL - O que você mais gosta, que mais te surpreendeu, ai na Nova Zelândia?

Ronnan - O preço dos produtos e a desburocratização dos serviços são as coisas mais surpreendentes. O preço da maioria dos produtos é, relativamente, mais barato que no Brasil. No Brasil eu precisava trabalhar duas horas para pagar um quilo de queijo e aqui com uma hora de trabalho eu compro mais de 3 quilos. Com uma hora de trabalho eu compro 15 litros de gasolina enquanto no Brasil eu precisava trabalhar 3 horas pela mesma quantia. Quando você compra um carro, além do preço ser muito mais agradável, a transferência do veículo é feita na agência dos correios, sem precisar preencher recibo e muito menos ir ao cartório reconhecer firma (até porque aqui não existe cartório). Apenas preenchendo um formulário e pagando a taxa de menos de $10 NZD, num prazo de 7 dias você recebe o documento em casa. Fazer o seguro do carro é ainda mais simples, basta preencher os seus dados no site da seguradora, esperar pela ligação para confirmação dos dados e pronto. Sem vistoria, sem fotografia do veículo nem nada do que estamos acostumados, sem falar no preço que me custou: apenas 3 dias de trabalho para pagar pelo seguro. Aqui não existe cartório, a autenticação de documentos é feita por um Justice of Peace, ou seja, um professor, médico, ou qualquer pessoa que tenha se cadastrado junto ao Parlamento para tal função, e o mais assustador é que eles não podem cobrar nada pelo serviço.

12 - BL - Qual a sua visão da vida em geral na Nova Zelândia? É mais corrida ou mais tranquila do que no Brasil?

Ronnan - No trabalho é tão corrida quanto no Brasil. Fico de plantão no telefone semana sim, semana não. Às vezes preciso trabalhar no fim de semana, porém não existe hora extra, são pagas horas corridas, como se fosse durante o horário normal de trabalho. O trânsito é bem mais tranquilo e com muito menos acidentes. Na minha opinião a correria aqui é a mesma, mas o resultado é mais gratificante.

13 - BL - Como você compararia a sua vida no Brasil e na Nova Zelândia?

Ronnan - No Brasil a gente luta muito pra conseguir alcançar alguma coisa para que, no próximo minuto, estar com a sua cabeça na mira de uma arma de fogo, pois agora você tem algo que outra pessoa quer. Aqui a gente luta muito pra conseguir amigos permanentes, pois todos parecem estar de passagem pela Nova Zelândia e a chance de reencontrar um amigo que voltou para a Inglaterra, Finlândia ou para o Brasil é nula. Você precisa saber que isso não irá acontecer e se acostumar com essa condição. Gostaria de adicionar também que muitas pessoas escolheram a Nova Zelândia pelos esportes radicais, estilo de vida e badalação, eu pelo contrário, vim pela segurança que o país tem a oferecer.

14 - BL - Além dos amigos e familiares, o que você mais gosta e sente falta do Brasil?

Ronnan - A comida, sem dúvida, é o que mais sinto falta. Agora já estou acostumado com a comida aqui, mas sempre que a comunidade brasileira em Queenstown prepara um fim de semana com feijoada ou outro quitute da nossa terra, estou presente.

15 - BL - Você vem com regularidade ao Brasil? Já voltou alguma vez após a mudança?

Ronnan - Nas primeiras férias que tive fui com minha esposa para a Europa, pois apesar da saudade dos amigos e familiares, nós já havíamos vivido no Brasil por mais de 30 anos e chegamos à conclusão que merecíamos conhecer outros países. Pretendemos ir ainda esse ano para o Brasil pela "primeira vez", antes de junho se tudo correr como o planejado.

16 - BL - Você acha que você vai voltar a morar no Brasil?

Ronnan - Depois de conhecer países diferentes e culturas diferentes, passei a perceber que pro Brasil eu só volto de férias. Se por alguma razão eu tenha que sair da Nova Zelândia, farei de tudo pra ir à Austrália, Reino Unido ou Canadá, pois se já fiz isso uma vez vindo para cá, sei que sou capaz de encontrar outro lugar tão bom quanto.

17 - BL - O que você diria para alguém que está pensando em ir morar na Nova Zelândia? Que dicas daria?

Ronnan - Tire o seu projeto de morar em outro país do papel de uma vez por todas e comece pelo idioma. Aprenda o inglês para ter um bom salário (e não passar apuros), pois apesar de ter muitos brasileiros por aqui, você só vai conseguir seu visto de residência se tiver um dos requisitos básicos que é a proficiência na língua inglesa. Então pare de achar desculpas e comece a estudar. A única pessoa que pode te levar adiante é você mesmo, o problema é que essa mesma pessoa é quem vai te deixar imóvel se você permitir. A segunda dica é procurar emprego. É muito raro alguém conseguir arrumar um emprego para você. É muito comum as pessoas me pedirem para eu arrumar um emprego para elas, se fosse assim tão simples eu já teria feito para os meus familiares. A terceira dica é: seja persistente. Essa história de que "não aconteceu por que não era pra ser" ou "tudo acontece por uma razão" não serve pra mim e acredito que também não sirva pra muita gente, então continue tentando, corrigindo as falhas e tentando novamente.

Se você quer fazer como o Ronnan e ir embora do Brasil, é importante lembrar que é preciso estar com toda a documentação certa, para não correr riscos. Depois do visto ajeitado, preocupe-se apenas em arrumar as malas. Deixe a sua mudança por nossa conta. Nossos colaboradores são extremamente eficazes e competentes e, com certeza, cuidaremos das suas coisas como se fossem nossas!


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